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Povos indígenas sofrem com aumento do adoecimento mental; saiba onde buscar ajuda

Por Lucas Falconery, Diário do Nordeste, em 23 de setembro de 2022


O adoecimento da mente afeta as comunidades indígenas do Ceará com força preocupante. Casos de suicídios e lesões autoprovocadas cresceram na pandemia e evidenciam a necessidade de um atendimento de saúde mental considerando as crenças e culturas dos povos tradicionais para a preservação de vidas.

Casos de suicídio, ou tentativas, assim como de lesões autoprovocadas são problemas de saúde pública, têm tratamento e precisam ser acompanhados por profissionais capacitados para tais. No Ceará, existem várias unidades de saúde, públicas e privadas, assim como projetos que atendem pacientes e familiares. No fim deste texto há uma lista com endereços desses locais e contatos.

Os dados ligados a esses problemas são, inclusive, contabilizados pelas autoriades sanitárias de todo o país. No Ceará, pelo menos 9 indígenas cometeram suicídio no Estado entre 2018 e 2022. E os números cresceram na pandemia: enquanto foram 2 mortes do tipo em 2019, em 2021 foram 4. Na crescente também estão os casos de lesões autoprovocadas, quando alguém fere o próprio corpo numa tentativa ou não de tirar a vida - foram 52 casos entre indígenas nos anos de 2018 a 2021.


Foto: Kid Júnior

O cenário, na verdade, poder ser mais intenso, como analisa a psicóloga Rayane Sales Nobre de Lima (CRP 11/11910) do Conselho Regional de Psicologia do Ceará.

"Nós trabalhamos com dados subnotificados, mas o que nós temos de informação é um aumento significativo no adoecimento psiquíco desses povos e nas taxas de suicídio", pondera. Isso revela a necessidade histórica de conhecer a realidade indígena.

Neto Pitaguary, trabalhador de saúde indígena e presidente do Conselhos Distritais de Saúde Indígena (Condisi), aponta que o agravamento de questões psicológicas se mostra na procura por medicamentos.

Isso pode ter relação direta com a falta dos encontros para a realização de manifestações culturais e de fé entre indígenas, como analisa Eliane Tabajara, presidente do Conselho de Saúde Indígena.

"Essa pandemia maltratou demais, não só o fato da doença levar à morte, mas se isolar. Nós, indígenas, passamos longos períodos sem executar a nossa cultura e os nossos rituais, sem se encontrar com outros povos", frisa.

O atendimento de saúde mental para indígenas deve ser elaborado e executado conforme as particularidades dos povos tradicionais. “É essencial que qualquer política criada leve em consideração a própria dinâmica cultural desses povos, que também vão mudando de acordo com as suas práticas”, completa Rayane de Lima.

Visão compartilhada pela psiquiatra e professora na Universidade Federal do Ceará (UFC) Luísa Bisol. "Os serviços de saúde mental precisam se adequar ao contexto cultural dessas comunidades indígenas, respeitando o que eles acreditam e estabelecendo de fato parcerias. Nosso conhecimento vai ajudá-los e o conhecimentos deles a nós”, acrescenta.

Eliane Tabaja também enxerga a assistência de saúde mental como um serviço que deve ser ofertado de forma ampla e coerente com a cultura indígena. Na comunidade onde vive, houve articulação para ter apoio de uma psicóloga que agora atua com professores e deve atuar junto com os estudantes e famílias da região.

"A saúde mental tem dois caminhos: a do psicológico, a do médico e desse apoio da saúde em si. E temos a espiritualidade com os nossos pajés e rezadores", indica.

Além disso, o suporte para atravessar momentos depressivos ou outros transtornos mentais passa pela compreensão de quem está próximo do paciente. "Uma pessoa com o psicológico afetado não vai pensar de forma sadia, então precisa de apoio, de alguém próximo para buscar uma solução, da família, dos amigos e da nossa própria cultura, que faz nos aproximarmos", conclui.

O Diário do Nordeste abordou como a histórica falta de demarcação de terras e a violência são sentidas pelos povos tradicionais, que recebem o apoio de indigenistas. O Ceará tem 5 mil famílias de 14 cidades envolvidas em conflitos de terras no campo.

Esse agravamento, na verdade, acontece num contexto de sofrimento histórico dos indígenas, como avalia Rayane de Lima. "Há uma tentativa de aniquilamento desses povos com uma derrubada de direitos, um aviltamento de direitos humanos, que tem ocorrido com muito mais frequência dentro dos povos indígenas", observa.

Por isso, os indígenas buscam acesso aos serviços, mas também o fortalecimento da comunidade por meio de celebrações culturais e espirituais. Esses elementos foram relevantes para atravessar, por exemplo, o período mais intenso da pandemia.

O Ceará tem 24 Equipes Multiprofissionais de Saúde Indígena (EMSI), que entre outras esferas também disponibiliza serviço de saúde mental, metade na Região de Fortaleza e metade na Região Norte.

A atribuição do cuidado com as comunidades tradicionais é da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, responsável por coordenar a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas.

Caso você esteja se sentindo sozinho, triste, angustiado, ansioso ou tendo sinais e sentimentos relacionados a suicídio, procure ajuda especializada em sua cidade. É possível encontrar apoio em instituições como o Centro de Valorização da Vida (CVV), os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). O CVV funciona 24 horas pelo telefone 188 e também atende por e-mail e chat (acesse www.cvv.org.br). Os Caps oferecem ajuda profissional. No Ceará, procure os Caps (veja a relação completa das unidades de Fortaleza) e o Hospital de Saúde Mental, telefone: (85) 3101.4348.

• Postos de saúde: as unidades são portas de entrada para obter ajuda especializada, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). • Centro de Valorização da Vida – CVV Atendimento 24h Contatos: 188 | https://www.cvv.org.br • Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE) Contato: 193 Endereço: Núcleo de Busca e Salvamento Av. Presidente Castelo Branco, 1000 – Moura Brasil – Fortaleza-CE • Hospital de Saúde Mental de Messejana Contatos: (85) 3101.4348 | www.hsmm.ce.gov.br Endereço: Rua Vicente Nobre Macêdo, s/n – Messejana – Fortaleza/CE • Programa de Apoio à Vida – PRAVIDA/UFC Contatos: (85) 3366.8149 / 98400.5672 | www.pravida.com.br | contato.pravida@gmail.com Endereço: Rua Capitão Francisco Pedro, 1290 – Rodolfo Teófilo – Fortaleza/CE • Instituto Bia Dote Contatos: (85) 3264.2992 / 99842.0403 | contato@institutobiadote.org.br / institutobiadote@gmail.com | www.institutobiadote.org.br Endereço: Av. Barão de Studart, 2360 – Sala 1106 – Aldeota – Fortaleza/CE


Mais informações em: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/ceara/povos-indigenas-sofrem-com-aumento-do-adoecimento-mental-saiba-onde-buscar-ajuda-1.3275974

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