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Fepoince lança nota de repúdio à pesquisa "GPS-DNA Origins Ceará"

Escrito por Davi Stigger, Observatório dos Direitos Indígenas, 30 de julho de 2020


A Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará, Fepoince, publicou uma nota de repúdio à pesquisa "GPS-DNA Origins Ceará", coordenada pelo professor da Universidade Federal do Ceará Luís Sérgio Santos. Segundo o jornal Diário do Nordeste, a pesquisa visa "mapear os povos que formaram essa população", ou seja, a população do Ceará. Ainda segundo o mesmo jornal, o resultado da pesquisa demonstra que o europeu que colonizou o Brasil era "escandinavo, viking, visigodo, e antes disso, alemão", insinuando uma ligação genética dos cearenses com povos nórdicos.

A pesquisa foi duramente criticada pela Fepoince, ressaltando que a pesquisa possui um viés racista e colonialista:

"Esta é mais uma tentativa espúria de usar instrumentos da ciência ocidental para desacreditar e silenciar os povos indígenas e afro-brasileiros. Cem anos atrás mediam nossas cabeças e narizes, diziam que a “cabeça chata” (braquicefalia) era sinal de inferioridade e pouca inteligência. Raptavam nossos parentes para expor em circos e zoológicos humanos na Europa e nos Estados Unidos e lucrar com a venda de ingressos. Escreviam documentos oficiais que diziam que não existiam mais indígenas no Ceará porque estávamos misturados. Lembrem-se que antes da Europa foram criados campos de concentração no Ceará para isolar os “flagelados” da seca, nossos antepassados estiveram nesses campos, sofrendo de fome, doenças e maus tratos de todo tipo. Sobrevivemos!"

Além disso, a federação denuncia que o recolhimento do material genético de indígenas no Ceará para a pesquisa foi feita sem diálogo com a federação e com órgãos que trabalham na proteção e promoção dos direitos indígenas no Ceará, como o Ministério Público Federal e a Fundação Nacional do Índio. A partir disso, a Fepoince ressalta que

"Os ditos coordenadores e organizadores dessa pesquisa podem e devem ser acionados em tribunais penais nacionais e internacionais para que sejam responsabilizados por essas práticas criminosas."


Por fim, ressaltam que a pesquisa traz perigosas insinuações sobre a construção da identidade cearense- e brasileira- , como a minimização da atuação dos negros e índios na história local:

"A mídia que divulga essas ideologias desesperadas também deve ser responsabilizada pela forma leviana com que trata um tema tão sério. Nossa história não começa em 1500 e nem termina nos livros dos brancos. Nossa história é a história da terra. Dos mares, serras, sertões e cidades desse estado. Pois fomos nós, indígenas e negros, que levantamos cada engenho, curral, prédio e palacete do Ceará. Hoje, depois de muita luta temos espaço e visibilidade, e não nos calaremos diante de monstruosas fakenews como essa de que os cearenses descendem mais dos nórdicos do que de indígenas ou africanos."
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